No mundo hiperconectado em que vivemos, é cada vez mais comum ver profissionais da saúde utilizando as redes sociais para divulgar resultados de tratamentos, compartilhar “antes e depois” ou mostrar o dia a dia da clínica. Apesar das boas intenções, essa prática pode trazer riscos jurídicos sérios e violar princípios éticos fundamentais da atuação médica.

Por que a exposição de pacientes é um problema?
Mesmo quando o paciente autoriza, divulgar sua imagem ou informações de saúde pode violar o sigilo profissional e desrespeitar sua dignidade.
A legislação e os códigos de ética protegem o sigilo médico. Sempre que alguém compartilha imagens, detalhes ou qualquer informação que possa identificar um paciente, assume o risco de responder a um processo ético, uma ação cível por danos morais e até enfrentar sanções criminais – dependendo da gravidade do caso.
O que dizem as normas?
Código de Ética Médica (CFM):
- Art. 74: Revelar sigilo profissional relacionado a paciente menor de idade, inclusive a seus pais ou representantes legais, desde que o menor tenha capacidade de discernimento, salvo quando a não revelação possa acarretar dano ao paciente.
- Art. 75: Fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente.
Código de Ética Médica – Res. (1931/2009) – Capítulo IX – Sigilo profissional
LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados):
- Classifica os dados de saúde como sensíveis e exige tratamento com segurança reforçada e finalidade clara. O consentimento deve ser informado, específico e documentado – no entanto, isso não elimina a obrigação ética de preservar o sigilo.
Mas e se o paciente autorizar?
Mesmo com um termo de autorização assinado, o médico continua obrigado a proteger a intimidade e a dignidade do paciente. Em outras palavras, o consentimento formal não afasta os riscos éticos ou jurídicos, principalmente quando envolve exposição pública.
Além disso, o próprio CFM já se posicionou contra a prática de publicar imagens de “antes e depois”, classificando-a como antiética – mesmo que o paciente tenha autorizado.
Como divulgar seu trabalho com responsabilidade?
- Em vez de mostrar casos específicos, produza conteúdos educativos e genéricos, explicando procedimentos de forma geral.
- Prefira depoimentos anônimos ou que preservem a identidade do paciente.
- Além disso, evite transformar sua atuação médica em um portfólio comercial.
- Por fim, conte com apoio jurídico e ético para revisar suas estratégias de comunicação.
Conclusão
A prática médica vai além do domínio técnico: ela exige responsabilidade ética e compromisso com o ser humano.
Por isso, antes de publicar qualquer conteúdo que envolva pacientes, reflita sobre os impactos da exposição e respeite os limites legais.
Lembre-se: é totalmente possível se comunicar com o público de forma ética, profissional e segura, sem comprometer a confiança construída na relação médico-paciente.
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